A consistência do álcool em gel varia bastante, alguns são mais pegajosos, difíceis de sair das mãos. Muitas pessoas estranham, acham até que o produto não tem qualidade e, em tempos de pandemia, não tem eficácia contra o novo coronavírus. O farmacêutico Rodrigo Gonçalves explica que isso acontece porque os espessantes usados no produto podem variar, mas ele continua seguro.
O estudante de Odontologia Ícaro Venâncio, de Teresina (PI), afirma que comprou um frasco de álcool em gel e estranhou seu aspecto. “O produto tinha uma consistência diferente, mais grudenta, dava até nojo de usar. Tive receio de que não tivesse qualidade. Até chequei a validade, mas estava dentro do prazo. Mesmo assim, acabei substituindo por álcool líquido, que coloquei no borrifador”, disse ao Bom Dia Piauí, da TV Clube/Globo.
Mas os especialistas ouvidos pela reportagem da TV não recomendam trocar o álcool em gel por líquido para higienizar as mãos porque ele evapora muito rápido e acaba não sendo eficaz no combate ao novo coronavírus.
Quanto ao aspecto físico ‘estranho’ de algumas marcas de álcool em gel, o farmacêutico Rodrigo Gonçalves explicou que isso acontece porque o princípio ativo que é responsável pela textura viscosa do gel está em falta devido à alta demanda por conta da pandemia, e ele acabou sendo substituído por substâncias semelhantes.
“Com a pandemia, houve desabastecimento de um dos princípios ativos que são utilizados na confecção do álcool em gel, que é o carbopol. Com a falta dele, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou outros constituintes para serem utilizados no produto”, afirma Gonçalves. “Essa substância espessante complementa o álcool a 70%, que mata os micro-organismos. Os 30% restantes são compostos por água e pelo espessante, para dar a consistência de gel ao produto”. Mesmo com o aspecto diferente, o farmacêutico diz que o produto é seguro. “Ele pode ser utilizado, a eficácia é garantida”.
O desabastecimento de álcool em gel em diversos estados brasileiros, em plena escalada do novo coronavírus, fez com que a Anvisa permitisse a alteração na formulação do álcool em gel. A agência decidiu adaptar um guia da Organização Mundial da Saúde (OMS) para aumentar a produção no Brasil. O documento traz instruções de como empresas podem obter o produto antisséptico sem carbopol.
Um grupo de pesquisadores da USP traduziu o guia da OMS que sugere o uso de outras matérias-primas. De acordo com o pesquisador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Filipe Canto Oliveira, trata-se de uma combinação de álcool 70% com glicerol, para manter a hidratação, e peróxido hidrogênio, que inativa “esporos de bactérias que álcool 70 sozinho não consegue”, segundo revelou o Huffpost Brasil.
Segundo os especialistas, a alteração no aspecto do álcool em gel com ajuda de novos agentes espessantes também não causa problemas na pele. Contudo, a dermatologista Elizane Viana alerta para o uso excessivo do produto. Neste caso, ao invés da proteção ele pode causar maior exposição a infecções. “A pele fica ressecada e pode apresentar descamação, que varia de pequena à intensa, e com isso aparecem coceiras e fissuras. Hoje já se sabe que não há necessidade de usar álcool em gel constantemente. Quando se está em casa, por exemplo, basta lavar as mãos com água e sabão”, afirmou Elizane ao Bom Dia Piauí.